quinta-feira, 27 de outubro de 2011

As Veias Abertas Da América Latina

CAPÍTULO 1

A América foi descoberta em 1492. Três anos após o descobrimento, Cristóvão Colombo dirigiu uma campanha militar que dizimou os índios da Ilha Dominicana, sendo que alguns dos que sobraram, acabaram sendo vendidos como escravos.

A ocupação portuguesa e espanhola combinava a propagação da fé cristã e o saqueio das riquezas nativas.

O sofrimento imposto aos índios foi enorme. Muitos se suicidavam, outros sucumbiam diante da escravidão e grande parte era derrotada por bactérias e vírus vindos da Europa.

O desnível do desenvolvimento entre os conquistadores e os índios pode explicar o motivo de tais derrotas.

A população de índios, por conta disso, sofreu perdas enormes, reduzindose assustadoramente.

Num primeiro momento após o descobrimento, os principais objetos de exploração foram os metais, particularmente a prata, em Potosí (na Bolívia) e o ouro em Ouro Preto – Minas Gerais (no Brasil).

Nesse processo, a maioria dos índios pereceu. Alguns tentaram resistir, mas eram impiedosamente massacrados, como, por exemplo, o líder indígena Tupac Ámaru, que encabeçou um movimento revolucionário, mas acabou sendo executado e mutilado, junto com sua família e partidários, em praça pública.

É importante ressaltar que grande parte dos metais explorados na América Latina servia somente para enviar aos países europeus.

No caso brasileiro quem se beneficiou, particularmente, foi a Inglaterra.

Além do mais, quase tudo o que era consumido no Brasil, vinha da Inglaterra, inclusive as vestimentas dos escravos negros que trabalhavam nas minas brasileiras.

CAPÍTULO 2

A busca do ouro e da prata foi o motor principal das conquistas, e quando se descobriu a rapidez e facilidade de plantar cana-de-açúcar, passaram a explorar isso também, o que trouxe como conseqüência o aumento do número de escravos negros trazidos da África.

Note-se que o açúcar era tratado como um artigo de luxo, muito caro e cobiçado pelas elites européias.

Até meados do século XVII o Brasil foi o maior produtor mundial de açúcar, assim era um dos principais compradores de escravos, visto que os índios logo morriam ante a escravidão.

O negócio açucareiro no Brasil era predominantemente financiado por capital holandês. Os holandeses faziam as instalações, traziam escravos, refinavam o açúcar.

Em 1630 os holandeses tentaram invadir o Brasil, mas foram expulsos e levaram consigo o negócio do açúcar, que instalaram nas Antilhas.

As Antilhas ficaram condenadas ao mercado de açúcar até os dias de hoje, prisioneiros da monocultura, que trouxe desemprego e pobreza.

Cuba conseguiu se livrar dessa monocultura após a revolução, tal como de males como o analfabetismo e o desemprego. A reforma agrária de 1959 deu início a um processo de diversificação da economia cubana.

O açúcar proveniente da América Latina acarretou grande acumulação de capital pelos europeus e até pelos Estados Unidos.

Em princípios do século XIX a Inglaterra passou a encabeçar uma campanha anti-escravagista, visto que sua indústria já necessitava de mercados internacionais com maior poder aquisitivo.

No ano de 1888 foi abolida a escravidão no Brasil, mas não o latifúndio. A maioria dos trabalhadores vivia e trabalhava em condições semelhantes à da escravidão.

Narra o autor também, sobre a borracha. O Brasil havia conquistado o Acre e assim possuía quase a totalidade das reservas de borracha do mundo. Para a exploração da borracha foi utilizada mãode-obra nordestina.

Pouco tempo depois os ingleses roubaram algumas sementes de seringueira e levaram para a Ásia. O Brasil passou, assim, a não exercer mais o controle sobre o produto.

Outros produtos explorados foram o cacau e o café. O cacau principalmente na Venezuela. Também no Brasil havia plantações de cacau.

No que tange ao café, no Brasil, um dos principais produtores na América

Latina, além da mão-de-obra escrava foi utilizada a dos imigrantes vindos da Europa.

O café foi um grande negócio no Brasil e levou os cafeicultores a constituírem uma nova elite social no País. Note-se, porém, que empresas estadunidenses estavam por trás do negócio, apesar de que era o Estado brasileiro que suportava todos os ônus negativos do negócio.

Alguns revolucionários como Sandino, na Nicarágua e Zapata, no México, iniciaram lutas contra a exploração dos imperialistas e latifundiários.

CAPÍTULO 3

Os Estados Unidos e as empresas estadunidenses investem na América

Latina com a finalidade de obter matéria-prima de que necessitam para suas indústrias, dos mais diversos ramos, visto que não possuem matéria-prima na quantidade que necessitam.

Neste processo, se vale dos mais variados meios para controlar os mercados, inclusive derrubar e instituir governos como bem entendem, chegando até a incentivar guerras, como a Guerra do Pacífico em 1879-83 e a Guerra do Chaco em 1932-35.

Com o avanço da tecnologia e desenvolvimento bélico, as matérias-primas de interesse passaram a ser as mais variadas como o estanho, ferro, gás natural e principalmente o petróleo.

CAPÍTULO 4

No momento em que começaram os movimentos de independência na

América Latina, e posteriormente com a independência conquistada, os ingleses lucraram muito.

Enviavam os produtos que fabricavam para faturar enormes quantias com os mais novos mercados. A enorme quantidade de produtos ingleses nos países latino-americanos se deveu ao fato de que estes países não estabeleciam barreiras que protegessem suas indústrias como impostos sobre estas mercadorias estrangeiras, ou quando os havia, eram insignificantes, possibilitando inclusive que o produto estrangeiro fosse mais barato que o nacional.

Como conseqüência, as indústrias nacionais foram arrasadas. Observa o autor, citando Friederich List, que o principal produto inglês, assim, foi o “livre comércio”, que na realidade beneficiava os próprios ingleses, pois na medida que enriqueciam, a América Latina se afundava cada vez mais.

Houve algumas tentativas de proteger o mercado interno como uma lei alfandegária na Argentina, em 1835, que resultou em ataques militares franceses e ingleses.

Entretanto, na América Latina, destacou-se um país em que não mandavam as oligarquias, tampouco o capital inglês. Foi o Paraguai.

Neste país não havia grandes latifúndios particulares, as terras eram, quase em sua totalidade, do Estado, o analfabetismo era o menor da América Latina e de modo geral toda a população desfrutava de uma boa vida ou não passava necessidades.

Essa situação preocupada a Inglaterra, por não poder penetrar naquele mercado, e às oligarquias dos países vizinhos, pelo Paraguai servir de “má influência”.

Foi então que se formou a tríplice aliança entre Argentina, Brasil e Uruguai, em 1865, para destruir o Paraguai, com total apoio moral e financeiro dos ingleses.

O Paraguai resistiu bravamente, mas acabou sucumbindo, com sua população quase que totalmente aniquilada.

Por fim, os países da tríplice aliança sofreram uma bancarrota financeira, ficando ainda mais dependentes da Inglaterra; já o Paraguai, passou a ser explorado e não se recuperou até hoje.

Galeano conclui o capítulo notando que enquanto os Estados Unidos nada enviaram à Inglaterra, possibilitando assim um desenvolvimento local mais aprimorado, a América Latina enviou a maioria das matérias-primas de que a Europa necessitava para o seu desenvolvimento econômico, impossibilitando o desenvolvimento local.

CAPÍTULO 5

A partir do final da I Guerra Mundial houve na América Latina um recuo dos interesses europeus, em benefício dos estadunidenses. Conseqüentemente houve uma diminuição nos gastos com o serviço público e a mineração e um aumento com relação ao petróleo e a indústria manufatureira.

O capital estadunidense tomou os setores chaves das indústrias locais, para daí, comandar todo o resto e ditar as regras.

Nota o autor que os capitalistas dos Estados Unidos concentraram-se, na

América Latina, mais agudamente que no próprio país e estão desvinculados de qualquer idéia ou sentimento de nacionalismo.

O fator prejudicial nisso tudo foi o fato do crescimento industrial na América

Latina ter sido, de modo geral, trazido de fora, e não desenvolvido internamente.

Houve alguns governos nacionalistas que tentaram fazer um contrapeso a isto, mas de uma forma ou de outra, acabaram liquidados.

Eram poucas as empresas que não estavam ligadas ao capital estadunidense e mesmo assim, muitas dessas que não tinham vínculos com o capital estadunidense acabaram sendo engolidas por empresas estrangeiras, as quais desfrutavam de maiores benefícios pelo tratamento que lhes davam o Estado, em nome do desenvolvimento, e isto ficou claro no Brasil.

Observa Galeano que veio a incrementar o controle capitalista sobre a

América Latina, o Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição controlada pelos Estados Unidos, que prometeu e promete milagres e veio, na realidade, a institucionalizar um controle financeiro sobre o mundo; na América Latina determina polícias financeiras a serem adotadas pelos governos, determinando quais as áreas e o quanto investir.

Um outro modo de subtrair dinheiro da América Latina tem sido a instalação de bancos estadunidenses nesses países; conseqüentemente esses bancos acabam exercendo real influência sobre os mercados internos.

Assim, a detenção dos recursos financeiros, se mostra a mais eficaz forma de dominação por meio da qual se instala e se derrubam governos, ditaduras, por meio de que se destrói a indústria nacional em detrimento da estrangeira, por meio de que se institui salários de fome, para que os países latinos americanos vendam os produtos baratos para o exterior, mas comprem caros os de que necessitam, exportem o melhor produto e fique com o de pior qualidade. Enfim, desta maneira os países imperialistas, principalmente os Estados Unidos, vêm comandando setores estratégicos e decisões políticas na América Latina.

Por fim, conclui o autor, que o principal fator que permite essa exploração é a falta de unidade entre os latino-americanos, principalmente no campo econômico, visto que esses países comercializam mais com os Estados Unidos e Europa, do que entre si.

Eduardo Galeano

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